domingo, 22 de agosto de 2010

Finalização da (Re)construção da Proposta Curricular de Ensino de Ciências

Observação: devido a formatação do Blog não será possível publicar aqui os conteúdos programáticos dos respectivos anos (6º ao 9º) do ensino fundamental.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
DISCIPLINA DE ENSINO DE CIÊNCIAS

INTRODUÇÃO

Esta Proposta Curricular de Ensino de Ciências tem como base estimular o raciocínio dos estudantes e professores. Embora seja esta a concepção, a obra apresenta características singulares que permitem aos professores da Rede Pública Municipal de Ensino de Rio do Sul (SC), realizar adaptações e imprimir seu estilo pessoal ao Ensino de Ciências. O principal benefício aos estudantes é a possibilidade de desenvolver de diversas potencialidades cognitivas, afetivas e sociais na escola, sem restringir as atividades de sala de aula à tediosa tarefa de memorizar termos-técnicos – principal característica do tradicional Ensino de Ciências.
Segundo Chassot (1994), é preciso que nós docentes de Ensino de Ciências busquemos, cada vez mais, um ensino inserido na realidade onde o mesmo se realiza. Os nossos estudantes do Ensino Fundamental precisam aprender a fazer uma leitura do mundo em que vivem, com o auxilio desse constructo humano chamado de Ciência. Entendemos que essa leitura, ou seja, a Alfabetização Científica passa, necessariamente pelo domínio de alguns conhecimentos científicos, instrumentos tecnológicos e também da informação, conforme a argumentação de Chassot (2008):

As modificações sofridas na Escola – de centro irradiador do conhecimento, agora submetida a operações invasivas de informações -, determinam a procura de outras leituras curriculares – currículo aqui entendido como um campo cultural de disputas e interpretações – trazendo como exemplo de possibilidades curriculares a Wikipédia, uma enciclopédia construída on line. Estas análises terminam por sugerir que, mais do que espiar as novas tecnologias, entremos nelas e nos façamos atores (p.144, grifo do autor).

Neste sentido, pensamos em uma Proposta Curricular para o Ensino de Ciências, partindo de nossos projetos educativos, visando seu aprimoramento. Sempre que possível, precisamos atentar para as novas tecnologias da informação, auxiliando os estudantes no difícil e complexo processo de aprendizagem. Os estudantes nem sempre têm acesso a essas novas tecnologias e informações, fato que os situa à margem de uma caminhada que deveria conduzi-los a patamares cada vez mais sofisticados do conhecimento. Neste contexto, os saberes escolares são essenciais para esta caminhada:

Saber escolar é o saber que a Escola transmite; e a ação de “transmitir” já descaracteriza este saber, pois estabelece a diferença entre produzir e transmitir. A Escola defronta-se com um duro questionamento quando se diz que a mesma não é produtora do conhecimento, e sim, reprodutora ou apenas transmissora do saber. A Escola não se diminui por transmitir o saber, se buscar fazê-lo dentro de uma maneira (re) contextualizada (CHASSOT, 2008, p.209, grifos do autor).

O professor de ciências por sua vez, deve promover uma leitura do mundo através do saber escolar, constituindo um conjunto de elementos, em torno dos quais, se estabelece todo o processo de ensino e da aprendizagem do estudante. Elementos que podem ser do cotidiano dos estudantes, de modo que aquilo que aprendem e aprenderam na escola, tenha um significado mais “útil” e interessante, para melhorar o processo de (re) construção e reorganização das suas percepções de mundo, frente aos conhecimentos escolares. Ao mesmo tempo, essa relação dialética com os objetos de aprendizagem é recorrente no processo que claramente constrói o que comumente chamamos de Ensino de Ciências. Compreendemos que o Ensino de Ciências não deve ser uma disciplina escolar que limite o estudante a pensar sobre o mundo natural ou somente sobre a humanidade e suas obras, mas que promova dúvidas, conflitos, discussões e diálogos, tão necessários no ensino e na aprendizagem.

A Escola – na acepção de instituição que faz ensino formal, em qualquer nível de escolarização – nestes tempos de globalização está sendo mudada. E estamos nos referindo a algo mais amplo espectro, que vai desde a Escola infantil até a Universidade. As mudanças ocorrem em qualquer estabelecimento envolvido fortemente em Educação (CHASSOT, 2003, p.22).

A presente Proposta Curricular tem como preocupação subsidiar articulações para a renovação do Ensino de Ciências na Rede Municipal como um todo, proporcionando condições para que a escola e os docentes possam realizar um ensino e uma aprendizagem muito mais significativa a os seus estudantes. Proposta esta, que desafia os próprios docentes em diferentes aspectos, mas com uma essência de mostrar a Ciência como ela é, e como foi, e como esta sendo construída, por homens e mulheres como nós, através de instrumentos simples e complexos nessa difícil tarefa de construção dos conhecimentos científicos, e não somente com as prerrogativas de algumas elites da Ciência. Esse posicionamento nos leva a entender que o nosso dever e nossa convicção democrática são também de uma compreensão do lugar e a importância que a Ciência acabou assumindo em nossa sociedade contemporânea.

ESTRUTURA DA PROPOSTA CURRICULAR

Partindo de três categorias, previamente estabelecidas, organizamos nossas análises, procurando identificar as relações que estes parâmetros estabeleciam entre si, com a intenção de compreendermos melhor a Proposta e o Projeto Educativo dos professores para o Ensino de Ciências: a importância relacionada ao domínio conceitual da sua área do saber a dimensão conceitual, o domínio dos recursos procedimentos e estratégias que promovam o desenvolvimento a dimensão didática e, sobretudo, o conhecimento dos estudantes no que se refere às suas características psicológicas e sociais, ou seja, um sujeito que possui modos de pensar e perceber o mundo, interesses e necessidades a dimensão psicológica. Buscamos, a partir das suas percepções e crenças, de maneira compartilhada e refletida, encontrar formas para o desenvolvimento de um possível caminho para a (re) construção e construção de novos conhecimentos científicos através do auxílio dessa Proposta para um Ensino de Ciências melhorado e totalmente reformulado, mas não acabado, abrangendo todo o Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Rio do Sul.

Figura: O projeto educativo do professor de ciências
Fonte: SCHROEDER, (2008).

Para alcançarmos esta superação, traçamos alguns desafios, através de procedimentos que foram necessários para que possamos então realizar um Ensino de Ciências com caráter investigativo, e cada vez mais preocupado em problematizar os seus assuntos nos trabalhos de Ciências. Devemos enquanto profissionais de educação saber contextualizar os conteúdos a serem proporcionados aos estudantes. Com esses recursos os professores poderão chamar os seus respectivos estudantes, não só para investigar um problema, mas sim para relacioná-lo com o seu cotidiano, compreendendo cada vez mais a sua vida, e o mundo natural a sua volta.
O aprendizado passaria a ser construído em etapas, onde precisamos pensar e repensar de forma mais abrangente em função de uma cognição maior compreendida na Alfabetização Científica. Aumentando assim as possibilidades de garantir uma aprendizagem mais significativa, planejada, direcionada e composta de pequenas questões que levem os estudantes a refletir sobre algo, mesmo que seja muito complexo ou completamente novo. Ao instigarmos um estudante com certos questionamentos e informações que de alguma forma o provocarão, proporcionando a ele uma formação e um desenvolvimento cógnito e social mais satisfatório.
Comprovadamente em enumeras pesquisas realizadas sobre o ensino e aprendizagem a Alfabetização Científica, nos trouxeram, vários passos a seguir como, por exemplo: a própria abordagem investigativa e problematizadora citada anteriormente, potencializando a (re) construção de conceitos e concepções além de novos conhecimentos, devido ao elevado grau de significância para os estudantes em questão.
Acreditamos que essa Proposta Curricular e Pedagógica de Ensino de Ciências, venha a trazer verdadeiras mudanças, começando por não deixar, esta, ficar parada no tempo, procurando e buscando sempre melhorar e aperfeiçoá-la, mas para isso é necessário fundamentar-se na existência de estudos já realizados como os apresentados por: CHASSOT; FOUREZ; FREIRE; CARUSO; ASTOLFI; ROSA; DELIZOICOV; COLL; KUHN; POZO e muitos outros.


Justificar o nome “Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação” é dizer apenas que este livro quer muito particularmente mediar propostas para facilitar o ensino das Ciências, especialmente nos ensinos médio e fundamental (CHASSOT, 2001, p.21, grifo nosso).

O papel fundamental da Educação Científica é sem dúvida nenhuma ajudar os estudantes a entender, a interpretar a linguagem científica, para que esses estudantes possam ler o mundo natural que o cerca e estabelecer meios que o levem a uma plena Alfabetização Cientifica. O processo de Alfabetização Científica para Chassot (1999), é sem dúvida o pleno exercício da cidadania. Mudando o comportamento das pessoas como um todo e não apenas de modo pontual. Através dessa Alfabetização Científica podemos construir um novo olhar, discutindo e refletindo sobre as nossas atitudes como sendo parte incorporada as reais necessidades dos estudantes, tornando o Ensino de Ciências cada vez mais útil e compreensível.
A Alfabetização Científica tem a preocupação, de transformar e tornar o processo da educação onde se tenha mais compromisso privilegiando o ensino e a aprendizagem de forma mais integral, mostrando valores e significados para as coisas que precisamos e gostaríamos de aprender a entender, construindo novos conhecimentos e adaptando os seus conhecimentos cotidianos.
Compreendendo que a Proposta Curricular de Ensino de Ciências e seus conteúdos podem ser modificados adaptando-se as realidades, mas não de forma reducionista, mas sim incluindo tudo o que for necessário para que os estudantes entendam o mundo natural a sua volta, compreendendo que fazem parte dele, e não que somente vivem nele, compreendendo também que podemos mudá-lo e mudá-lo para melhor. Onde os signos, as representações científicas desse mundo, passem a fazer parte das representações implícitas dos nossos estudantes, reestruturando-as para entendê-las e transformá-las sempre que necessário. A partir de todas essas nossas considerações apresentamos os objetivos de nossa caminhada. Propomos, juntamente com os professores e professoras de ciências, através de um trabalho com um processo reflexivo centrado nos projetos educativos já construídos em suas trajetórias profissionais, com vistas ao aprimoramento da Proposta Curricular para o Ensino de Ciências da Rede Pública Municipal de Ensino de Rio do Sul.
A partir dessas considerações preliminares, apresentam-se os objetivos da mesma:

Objetivo geral:

Compreender a Ciência como uma linguagem, um construto humano, historicamente situada que implica também em problematizações, críticas, crises e rupturas, por isso não é uma verdade acabada, absoluta ou inquestionável; ela passa por mudanças, que acontece no decorrer da sua história e suas teorias são reconstruídas a partir de teorias já existentes. O desafio de alfabetizar cientificamente os estudantes por meio do ensino de ciências resume o objetivo geral da Proposta.

Objetivos específicos:

a) compreender as dificuldades dos estudantes no planejamento, organização e desenvolvimento dos procedimentos para uma aprendizagens e um ensino com estratégias que ajudem a superar dificuldades;
b) avaliar os procedimentos habilidades, conceitos e atitudes dos estudantes, refletindo e reavaliando se necessário for para uma (re) construção da sua aprendizagem, considerando-se aspectos teóricos e metodológicos associados ao ensino de ciências com vistas ao processo de alfabetização científica dos mesmos;
c) identificar entendimentos que os estudantes possuem a respeito da Ciência (os conhecimentos cotidianos) que compreende as unidades curriculares do Ensino de Ciências;
d) repensar sempre e trazer contribuições para auxiliar melhorias na Proposta, considerando-se aspectos teóricos e metodológicos associados ao Ensino de Ciências;
e) construir uma Alfabetização Científica com vistas a melhoria do Ensino de Ciências da Rede Pública Municipal Ensino de Rio do Sul;
f) estabelecer um programa de formação contínua e muito bem qualificada, para os professores de ciências da Rede Municipal de Ensino.

A NOSSA CONCEPÇÃO DE CONHECIMENTO

O conhecimento construído e atribuído as Ciências Naturais são constructos humanos, não apenas produtos, prontos e acabados, mas sim uma constante elaboração e reelaborarão de saberes e conhecimentos, juntamente com as relações histórico-culturais de cada pessoa. Os conhecimentos científicos expresso nas percepções, nas questões, nas dúvidas, na angustia, curiosidades e também na necessidade de pensar e repensar sobre as coisas que nos rodeiam, as regularidades e irregularidades naturais ou não, sendo assim um instrumento e, um possível resultado da dedicação de vidas inteiras na eterna busca por transformações. Vivemos nesse mundo natural inevitável, e quase sempre novo.
A ação inteligente tem foco no conhecimento entendido aqui como procedimentos que possibilitem desenvolver algo e consolidar etapas do ensino e da aprendizagem. Assim quando os estudantes utilizam um conceito aprendido e entendido, não decorado, então ele manifesta os conhecimentos aquisionados durante o processo de aprendizagem. Da mesma forma, é importante que os estudantes compreendam os procedimentos que permitiram que ele pudesse construir e reconstruir conhecimentos e concepções.
Os professores necessitam perceber o conhecimento científico não apenas como algo que irá fazer parte do sujeito, mas sim, problematizá-lo com vistas ao desenvolvimento, por parte dos estudantes, de uma percepção mais crítica em seu processo de construção e (re) construção dos conhecimentos; um fenômeno que ocorre a partir dos conhecimentos cotidianos implícitos. O professor precisa estar atento a estas questões, para, desta maneira, melhorar a forma pela qual organiza o seu próprio trabalho, e adequação da sua proposta de ensino.


O professor é visto como o agente catalítico cuja presença estimula e desafia os estudantes, que “jogam”. Nesta perspectiva, o apêndice do êxito do desafio do professor é TORNAR-SE DESNECESSÁRIO, é um suicídio profissional que só pode ser praticado pelos educadores que, em vez de fazerem a classe um palco para o seu HAPPENING, fazem dela a plataforma donde os jovens autônomos alçam vôo para outras galáxias! (LIMA, 1987, p.47, grifos do autor).

Recuperando a ideia acima, entendemos como os professores e professoras de ciências poderiam agir em sala de aula, colocando os conteúdos para que o estudante desenvolva suas habilidades de forma a observar, comparar, duvidar, descrever, classificar, desordenar e ordenar, medir, calcular e experimentar, enfim, pensar. Inicialmente, de forma mais dependente, tornando-se a cada discussão mais independente dos cuidados e auxílios dos professores, e com isso, possibilitar a formação do estudante. Entendemos que o professor é o responsável por essa construção significativa no processo de ensino e aprendizagem.
O conhecimento científico é, foi e está sendo elaborado por homens e mulheres que se dedicam a estudar em tentativas de interpretar a realidade para então podermos compreender melhor o mundo natural a nossa volta. Esses conhecimentos produzidos não são muitas vezes sobre o que é real, mas pode ter sido pensado e experimentado com modelos simulando a realidade de forma virtual ou teórica, talvez ainda muito incerta, mas sempre com o intuito de proporcionar sentido as coisas reais vividas no nosso cotidiano.
Já os conhecimentos cotidianos dos estudantes foram construídos ao longo de toda sua história de vida e por sua vez, devem ser relacionados com os conhecimentos científicos sempre que for possível fazê-los, sem rupturas desses conhecimentos que estão implícitos nos estudantes. Podemos reconstruir esses conhecimentos e com certeza começar um processo de transformação de acordo com as suas dificuldades apresentadas durante todo o processo de ensino e aprendizagem.

O que geralmente se avalia é o conhecimento conceitual e, em menor medida, o procedimental, mas as atitudes dos alunos praticamente não são levadas em conta, talvez porque se encaixam mal no tradicional formato de prova (POZO, p.29, 2009, grifo do autor).

Sobre este novo olhar podemos repensar nossas antigas concepções e conhecimentos cotidianos para então transformá-los através de bases científicas que podem e devem gerar e proporcionar, determinadas capacidades compreendendo novos conceitos, procedimentos e interações atingindo também os conceitos cotidianos mudando a visão de mundo nos estudantes, estimulando-os a pensar, compreendendo cada dia mais o mundo em que vivemos.
Contudo, o conhecimento e o entendimento da Ciência ajudam a desenvolver uma compreensão dos procedimentos, que desenvolvem habilidades e atitudes dos estudantes para com a sua formação e aprendizagem, consolidando novas posturas perante o conhecimento e a Ciência. Desafio que transforma um modelo tradicional de Ensino de Ciências em um modelo mais criativo respondendo as necessidades dessa nova geração de estudantes.

A NOSSA CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA

É comum encontrarmos definições de Ciência que a confundem como uma “verdade absoluta”, ou que apresentam como a supremacia das aquisições intelectuais humanas. A concepção pós-moderna de Ciência rompe com alguns dos pressupostos mais antigos, entre eles temos a imutabilidades e o da própria certeza das coisas ditas eternas ou até divinas. Hoje aprendemos e sabemos, ou pelo menos deveríamos saber e aprender que a Ciência é, foi, e esta sendo construída por homens e mulheres, com suas teorias, leis etc. Mas são todas elas passiveis de modificações, que às vezes podem nos trazer muitas conseguências e profundas alterações em nossas vidas, para pior ou para melhor.
A Ciência dos dias atuais não pode ser mais entendida de forma absoluta ou imutável. A exorcização de parte da Ciência se deu pelo cientificismo muito fortemente difundido nos tempos modernos, só que a crença exagerada na Ciência a colocava como algo sempre benéfico, às vezes até divino. O mundo do conhecimento e da Ciência foi e é construído por indivíduos que pensaram e escreveram a respeito de significados, materializando ideias que hoje são utilizadas por todos nós e para o desenvolvimento da própria Ciência. Entretanto, muitas vezes esse desenvolvimento não traz somente benefícios, mas problemas para todos nós.
De acordo com Pozo (2009) e Campos e Nigro (1999) é fundamental os professores formarem concepções adequadas sobre a ciência, a natureza do conhecimento científico e o seu ensino. Entendemos que a ciência, como uma construção humana, historicamente situada, implica em problematizações, críticas, crises e rupturas, por isso não é uma verdade acabada, absoluta e inquestionável; ela passa por mudanças, que acontece no decorrer da sua história e suas teorias são reconstruídas a partir de teorias já existentes. Assim, “a escola deve trabalhar com a ideia de que a própria ciência é provisória, de que é continuamente reconstruída – estamos sempre criando novos significados na tentativa de explicaro nosso mundo” (CARVALHO, et al., p.13, 1998).

Nesse contexto, o homem pode não apenas compreender melhor sua realidade, mas participa da sua transformação.
[...] o conhecimento científico submete-se a um processo de produção cuja dinâmica envolve transformações na compreensão do comportamento da natureza que impedem esse conhecimento de ser caracterizado como pronto, verdadeiro e acabado, mesmo que as teorias produzidas constituam verdades históricas que têm fundamentado o homem de ciência para uma explicação dos fenômenos (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002 p.66).

Face ao exposto, evidenciamos ser fundamental conhecer as percepções dos professores a respeito do que é ciência.
De acordo com Chassot em sua obra intitulada “A Ciência através dos tempos” nos revela e também nos faz pensar sobre a Ciência e sua construção, trazendo detalhes da sua história, com suas grandes revoluções científicas, entre elas a revolução copernicana, a revolução lavosierana e a revolução darwiniana. A Ciência mostra através da sua historia sua natureza provisória na busca incessante de repostas que nós homens e mulheres fizeram e fazem sobre si mesmos e sobre o universo do qual fazemos parte. Assim, na tentativa de descrever o mundo natural a nossa criaram uma linguagem para podermos interpretar e superar nossas dificuldades em compreender o universo que nos cerca. Neste ponto, concordamos com as palavras de Chassot (2008), quando argumenta sobre a Ciência como linguagem, comparando-a com uma língua falada em outro país que não conhecemos: portanto necessitamos saber falar, ler e também a pensar nessa língua. Agora pense na Ciência como uma língua que precisamos aprender para poder modificar coisas, entender outras e viver melhor com todos esses conhecimentos construídos historicamente.

UMA RENOVAÇÃO DO ENSINO DE CIÊNCIAS

O Ensino de Ciências necessita de uma renovação em muitos aspectos para que possamos transformar-lo, unindo-o a uma Alfabetização Científica, estabelecendo um vínculo para a realização de mudanças significativas para uma (re) construção deste ensino que se mostra claramente em “crise”.
Para que os professores e professoras de ciências possam transgredir fronteiras como diz Chassot, devemos compreender que é possível mudar e implantar uma cultura científica nas escolas, nos adequando as transformações já ocorridas, e nos adaptar a esse desconhecido e ao mesmo tempo fascinante e inevitável mundo novo.
Ao se criar um programa de renovação para o Ensino de Ciências podemos nos ater ao Currículo do mesmo, de modo a esclarecer e compreender os conceitos científicos e tecnológicos contidos nos conteúdos adaptando-os para os estudantes. Ou então proporcionar um resgate dos conhecimentos cotidianos dos estudantes enriquecendo e ajudando-os a raciocinar refletir e criticar possibilitando a autonomia tão falada por Freire, (1996) desses estudantes.

A experiência tem demonstrado que é preciso evitar o defeito do “todo metodológico”; ou seja, que a aquisição dos conhecimentos se converta em um objetivo menor em comparação com os processos empregados. Trata-se, definitivamente, de criar as condições para um confronto entre a opinião do aluno e o saber científico (SASSON, 2003, p.34, grifo nosso).

Visto que a renovação do Ensino de Ciências torne-se um Programa nas escolas, a função do professor não é mais de transmitir conhecimentos, mas sim de esclarecer e mostrar caminhos para seguir, onde entender “algo” é com certeza mais importante do que todas as informações que os estudantes possam ter encontrado. O objetivo do professor deve ser sempre o de fornecer alternativas com caminhos a seguir ou dúvidas que os levem a pensar e pesquisar ou até experimentar, testando e conflitando com os seus próprios conhecimentos.
O Ensino de Ciências na Educação Básica e Fundamental por sua vez deverá possibilitar aos estudantes esses entendimentos da Ciência e não mais aquela Ciência onde o que se falava era certo e não podia ser contestado por ninguém. Então nos professores e professoras de Ensino de Ciências, devemos assumir uma postura para situar os seus respectivos estudantes nesse mundo científico para poder ler através da linguagem científica o mundo físico e natural (nossa biosfera), intrinsecamente visualizando através dos mais variados aspectos culturais, históricos, científicos, tecnológicos e sociais, tornando-se um sujeito alfabetizado cientificamente.
O processo de Alfabetização Científica para Chassot (1999) é o pleno exercício da cidadania. Mudando o comportamento das pessoas como um todo e não apenas de modo pontual.
Atualmente as escolas não de tem mais o conhecimento nem tão pouco a informação, os estudantes tem muito mais tempo e acesso ao conhecimento e as informações do que os próprios professores, através da internet, TV a cabo e muitos outros meios de comunicação. Esse é o lado trágico da História da Educação atual nas escolas (CHASSOT, 1999).
Educação científica ou Alfabetização Científica tem a mesma preocupação, a de transformar e tornar o processo da educação onde se tenha mais compromisso privilegiando o ensino e a aprendizagem de forma mais integral, mostrando valores e significados para as coisas que precisamos e gostaríamos de aprender a entender, construindo conhecimentos.
Este processo de Alfabetização Científica destaca-se, como didática das ciências, buscando partir dos conhecimentos cotidianos (senso comum), onde as informações estão ou podem estar distorcidas, pelos meios de comunicação ou ainda pela própria população, possibilitando um maior esclarecimento, de informações do senso comum, reestruturando-os em conhecimentos científicos ou escolares (CHASSOT, 1999).
A Ciência pode ser considerada uma linguagem de interpretação do mundo natural. Entender Ciência nas suas diversas áreas nos ajuda a poder controlar ou tentar prever, mudanças da natureza, melhorando a qualidade de vida.
Através e pensando em tudo isso que foi comentado, de forma conjunta e participativa reelaboramos a Proposta Curricular e os seus conteúdos de Ensino de Ciências, mas ainda não mudarão totalmente, os professores estão começando a mudar, mas os estudantes já o fizeram, então a Ciência a ser ensinada deve ser repensada enquanto método, conteúdos, metas, objetivos para formação do sujeito enquanto estudante e pessoa, não só informar-lós de modo apenas conteudista, mas sim para criar, oportunizando a reflexão do que lhes é ensinado, onde e como pode ser utilizado. Então esbarramos em um obstáculo, os próprios professores e professoras de ciências que muitas vezes são ou estão muito bitolados pela sua pobre formação ou pela sua acomodação, diante dos problemas que o próprio sistema educacional apresenta.
Essa Proposta de renovação vem a ajudar no processo complexo de desenvolvimento de questões como: O que ensinar? E para que aprender ciências? Como ensinar ciências? Uma possível resposta seria fazermos uma (re) construção do conhecimento, que é necessário para uma boa contextualização, problematização e então uma elaboração desse conhecimento. Não com repetição, ou acumulação dos conhecimentos científicos, esse é o desafio, proposto a todos os professores e professoras de Ensino de Ciências ao estabelecer a importância fundamental de uma Alfabetização Científica e com seus projetos educativos, para com um Ensino de Ciências renovado, mas nunca acabado.

ÊNFASES CURRICULARES

Acreditamos ser muito comum que nós professores e professoras de ciências darmos mais importância a leituras de textos, ou somente aulas mais expositivas sem criar oportunidades para os nossos estudantes perceberem a real utilidade do que poderíamos fazer com o que aprendem nas aulas de ciências.
Esta Proposta Curricular de Ensino de Ciências vem através desta, apresentar a aplicação do aprendizado dos estudantes e enfatizar o compromisso dos docentes sobre os pressupostos metodológicos aqui utilizados como base fundamentando esta Proposta Curricular, nesta perspectiva, os/as adolescentes aprendem Ciências na Escola para:
• compreender e construir conhecimentos científicos (saber) que lhes contribuam para explicar os fenômenos que acontecem no mundo natural, em suas realidades.
• desenvolver habilidades científicas através de procedimentos estratégicos (fazer) para aquisionar conhecimentos, interpretar, analisar, compreender, organizar soluções, problemas e comunicar-se.
• praticar novas atitudes (ser e conviver) para consigo, com os outros grupos sociais, com as outras espécies de seres do meio ambiente, contribuindo para uma vida melhor, mais ética, saudável e sustentável.
Isso vem ao encontro dos critérios de seleção de conteúdos propostos no PCN de Ciências, referencial para discussão curricular no Brasil:

- os conteúdos devem favorecer a construção, pelos estudantes, de uma visão de mundo como um todo formado por elementos inter-relacionados, entre os quais o ser humano, agente de transformação. - devem promover as relações entre diferentes fenômenos naturais e objetos da tecnologia, entre si e reciprocamente, possibilitando a percepção de um mundo em transformação e sua explicação científica permanentemente reelaborada;
- os conteúdos devem ser relevantes do ponto de vista social, cultural e científico, permitindo ao estudante compreender, em seu cotidiano, as relações entre o ser humano e a natureza mediada pela tecnologia, superando interpretações ingênuas sobre a realidade à sua volta. Os temas transversais apontam conteúdos particularmente apropriados para isso;
- os conteúdos devem se constituir em fatos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores a serem promovidos de forma compatível com as possibilidades e necessidades de aprendizagem do estudante, de maneira que ele possa operar com tais conteúdos e avançar efetivamente nos seus conhecimentos (BRASIL, 1998, p.35).


A discussão dos conceitos científicos, a partir de contextos, na Rede Pública Municipal de Rio do Sul tem como referência os Eixos Temáticos: História da Ciência, Sociedade e Tecnologia, Educação para saúde e Educação Ambiental. Pensando agora sobre os Eixos Temáticos, entendemos que eles trazem a tona uma questão muitíssimo importante, da necessidade dos professores e professoras de ciências em sempre que possível contextualizar os seus temas trabalhados em sala de aula, por exemplo, com a História da Ciência, mostrando aos estudantes que a Ciência e muitos de seus conhecimentos foram construídos por pessoas como nós e eles ao longo dos séculos. Onde nada foi “descoberto” ou “criado” ao acaso, mas sim pesquisado com muitos anos de estudos, anos dedicados a uma ideia de pesquisa. Sempre pensado, testado, idealizado e às vezes comprovado, nos deixaram a herança de “verdades transitórias” e “incertas” que podemos seguir ou simplesmente questioná-las. Ensinamos Ciência como algo de muita importância a todos nós, algo que pode mudar ou acabar mudando mesmo as nossas vidas apenas usando uma linguagem, a científica.

A linguagem científica tem uma natureza bastante diferente da linguagem cotidiana, a ausência de explicitação desse dialogo pode levar o aluno a produzir uma amálgama indiferenciada entre conceitos científicos e cotidianos. Transformar a prática de sala de aula numa prática dialógica significa dar voz aos alunos e alunas, não apenas para que reproduzam as “respostas certas” do professor ou da professora, mas para que expressem sua própria visão de mundo, sua própria “voz” (CHASSOT, 2001, p.115).

Os professores e professoras de Ensino de Ciências ao fazermos a conexão da linguagem cotidiana dos estudantes com a linguagem científica, envolvendo sempre que possível for os demais Eixos Temáticos. Não devemos somente explicar conhecimentos científicos aos estudantes, porque não será suficiente para o entendimento desses conceitos científicos. Os estudantes precisam de mais para fazer a aquisição desses novos significados e códigos, da linguagem científica, mas ao estabelecer uma dialética com os estudantes os professores e professoras de ciências acabam proporcionando meios para a realização de uma resignificação desses conceitos, em conceitos próprios com palavras também próprias dos estudantes demonstrando com isso a aprendizagem.
Para finalizar, o rol de conteúdos conceituais, habilidades estratégicas e atitudes propostas para os estudantes aprender nas aulas de Ciências não precisa ser seguido linearmente, como num sumário de um livro didático, mas sim abordados em contextos, na ordem em que impor a necessidade do conteúdo a ser trabalhado. É importante destacar que o professor precisa ter clareza e domínio dos conteúdos que vai abordar, a partir dos contextos, para que não fique só na informação, mas sim na discussão do tema e reflexão tendo, também, critérios para avaliar esses estudantes.

UMA PROPOSTA DE AVALIAÇÃO: COERENTE E CONSCITENTE

Diante de todos esses comentários sobre estas três categorias da presente Proposta penamos em como podemos perceber e aprofundar o que é proporcionado no Ensino de Ciências e a Educação Científica, suas dificuldades e limites, que terá com certeza uma importância apresentada agora como Alfabetização Científica, enfatizando a Ciência e o método científico, sua real necessidade de ser ensinada, e ensinada de forma que tenha significação, enquanto disciplina de conhecimento científico (escolar).
Com a Alfabetização Científica conectada ao Ensino de Ciências podemos desde cedo, já no Ensino Infantil até o Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, começar a envolver os estudantes em um processo de Alfabetização Científica para o entendimento de que a Ciência é uma linguagem que devemos e podemos compreender para então nos posicionar perante o mundo que vivemos.
Os professores e professoras de ciências em especial estão preocupados e desanimados com o aprendizado dos estudantes que tem aumentado a falta de interesse por aprender ciências. Há muitas pesquisas apontando a crise do Ensino de Ciências podendo ter sido causada pelas mudanças ocorridas nos Currículos de Ensino de Ciências, juntamente com a reforma do sistema educacional.

Assim é percebido e vivenciado por muitos professores de ciências em seu trabalho cotidiano, e é isso que mostram inúmeras pesquisas: a maioria dos alunos não aprendem a ciência que lhes é ensinada (POZO, 2009, p.15).

Um grande número de estudantes apresenta dificuldades de entendimento nos conteúdos de ciências. Eles até conseguem fazer alguns exercícios repetitivos, mas não conseguem entender porque, nem para que o está fazendo, e muito menos explicar ou aplicar em outras situações esses conhecimentos científicos que foram apresentados aos estudantes.
O conhecimento científico por sua vez acaba ficando limitado em sua intenção de aplicação ou utilização. Isso não deveria acontecer. Porque o conhecimento científico acaba tornando-se cada vez menos importante para o estudante, que de fato não está recebendo um Ensino de Ciências de qualidade, mas sim de uma grande quantidade de conteúdos que se tornam “inúteis” para os estudantes, comprometendo e acumulando mais problemas à crise na Educação Científica como um todo, incluindo principalmente o sistema de ensino e o Ensino de Ciências que também está inserido.

De fato, como consequência do ensino recebido os alunos adotam atitudes inadequadas ou mesmo incompatíveis com os próprios fins da ciência, que se traduzem, sobretudo em uma falta de motivação ou interesse pela aprendizagem desta disciplina, além de uma escassa valorização de seus saberes (POZO, 2009, p.17).


Para que os docentes de Ensino de Ciências possam transformar o mesmo, podemos incluir os procedimentos de cada dimensão: A Conceitual, as Habilidades e Estratégias e os Procedimentos Atitudinais para fazer parte dos objetivos juntamente com conteúdos essenciais da disciplina de ciências, valorizando e também identificando os saberes implícitos dos estudantes. Mas muitos professores de ciências vêem as atitudes dos estudantes com “maus olhos”, e não acham adequado tomar essas, tais atitudes como uma parte do processo de avaliação na construção e reconstrução de conhecimentos a serem produzidos na sala de aula.
Precisamos compreender que o mundo não é e nunca foi mais ou menos exato, e totalmente resolvível como antigamente se imaginava, “quando a Ciência respondia tudo”. Ainda hoje a maior parte das pessoas tem uma visão de que a Ciência pode e sempre vai solucionar tudo, mas não é bem assim, a Ciência depende de muitas coisas, principalmente de reflexões, pessoas que pensem que estejam dispostas a estudar, a criar, experimentar, elaborar, testar novas idéias para os fenômenos do mundo. Mas ela, a Ciência pode falhar errar, e não solucionar tudo, isso pode e deve ser entendido para que o Ensino de Ciências seja mais significativo onde se aprenda a aprender com uma formação baseada na Alfabetização Científica com vistas a uma Educação Científica mais satisfatória na construção do conhecimento.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais, Ensino de quinta à oitava série: Ciências Naturais. Brasília: MEC, 1998.

CHASSOT, A. As Ciências Através dos Tempos. São Paulo: Moderna, 1994.

-------------, (1999). Buscando um eixo histórico para o ensino das ciências da terra. In: CAMPOS, Heraldo, CHASSOT, A. (orgs.). Ciência da terra e meio ambiente: diálogo para (inter) ações no planeta. São Leopoldo: UNISINOS.

-------------, (2003). Educação conSciência. 1ª ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC.

-------------, (2001). Alfabetização científica. 2ª ed. Ijuí: UNIJUÌ.

-------------, (2008). Sete escritos sobre educação e ciência. São Paulo: Cortez.

CAMPOS, M. C. da C.; NIGRO, R. G. Didática de Ciências: O ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999.

CARVALHO, A. M. P. de et. al. Ciências no Ensino Fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 1998.

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FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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Um comentário:

  1. Olá!!!! Fico feliz em ter chegado até aqui... estava numa pesquisa pela net e este blog surgiu na lista de minha solicitação. Gostaria muito de dialogar com os profissionais que aqui estiverem, uma vez que também estou em Rio do Sul e professora de Ciências e Biologia.
    "Saudações científicas"
    Professora Sandra Ap. dos Santos
    e-mail: esasandra@unidavi.edu.br

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